Cena do filme "O Último Tango em Paris"
“Conhece-te a ti mesmo” foi a máxima inspiradora da filosofia socrática. Seu preceito toma como base o dar-se conta de nossa profunda ignorância, para só assim sermos capazes de atirar-nos na busca pelo conhecimento.LEIA MAIS: Em casa com Bill Bryson
Desta forma, a investigação sobre nós mesmos torna-se incessante e imperativa, tanto internamente, quanto através do constante diálogo estabelecido em nossos relacionamentos. Em leviano resumo, é o homem (ou seja, nós mesmos) o grande enigma da humanidade.
No entanto, não há nada que tenha chegado mais perto em decifrar o “objeto” homem, e sua essência, quanto a arte e suas expressões.
É mais fácil compreender o sentimento de uma nação, em determinada época, debruçando-se sobre um quadro do que lendo capítulos de sisudos livros de história. É ser capaz de ouvir as vozes de toda uma geração através de uma guitarra que chora incendiada.
A clássica foto de Hendrix incendiando sua guitarra
Aproximando o tema da esfera íntima, pode-se dizer que, assim como nós elegemos nossos amigos, carreira e amantes, nós também elegemos a “nossa” arte. Independente das expressões (literatura, artes plásticas, moda, música, dança, cinema, teatro) ou refinamentos, a “nossa" arte é aquela capaz de interpretar nossa alma.Um exemplo disso é que pode-se passar anos convivendo e trocando ideias com uma pessoa, supondo conhecê-la por completo. Até que um dia esbarramos com uma página sublinhada de um empoeirado livro na estante, e um novo mundo nos é apresentado. Ali, estaria a verdadeira essência desse alguém, revelada de maneira talvez até inconsciente.
Há outros que são “despidos” pelas cores dos quadros pendurados na parede do quarto ou mesmo pelo choro contido da cena entre pai e filho da minissérie. Nós somos o que nos toca individualmente.
Alguns assistem a um desfile de moda e vêem modelos e modelitos: vestidos, sapatos, bolsas, coletes, broches e sílfides perambulantes. Mas há aqueles que enxergam drama, revolução, tabus, morte.
Outros testemunham o declínio de sua ideologia em uma sala escura de cinema, enquanto os demais esquecem das contas do mês e devoram suas pipocas. Muitos descobrem o sentido da vida assistindo a uma releitura de Brecht ou entre catárticos rifles de guitarra num show de rock. Não importa o quê, importa como.
Eu mesma posso ser os olhos do menino Christian Bale que fecham ao tocar os cabelos de sua mãe, na cena final de “Império do Sol”, o “antitango” de Maria Schneider e Marlon Brando em Paris, o terceiro conto de “Risíveis Amores”, de Milan Kundera, e “Cherub Rock”, do Smashing Pumpkins.
E você, qual arte te decifra?
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